sexta-feira, 24 de junho de 2011

É daqui, vendo as primeiras horas do dia
Que penso que podem ser estas as minhas últimas horas.

Não há prudência que justifique o tempo ido
Não há saudade que justifique pequenas marcas
Não há adeus que justifique uma partida
Não há o não ser para quem já o é
E sendo assim penso ser o que já sei ser
Mesmo sem saber algo ser

Ser inteligível
Ser inconcebível

Corroborar o que há de menos importante
Me fazer metáfora insolente no ar
Me fazer sonho, fogo, dor, mar
Apaziguar unicamente o que me é
Me faz, me traz, me paz
Me

Ser.

Palavras, cadernos, poesias, sonhos, esquecimentos, dores
Tudo que vai, vem, fica, marca, rasga, dorme, paira inquietamente
A verdade escorada na parede esperando ser encontrada.
Mas é a verdade que se escondia, que te temia
Minha tão única e solitária verdade.

Talvez a tragada não o salve, o vinho não o aqueça
A luz não o ilumine, a comida não o sacie
O sexo não o apeteça, a noite o enlouqueça
E sendo assim, que resta?
Esperar,
Que tudo vem a ser verbo
Escrito para confortar
A inquietude dos verbos que jamais irão se concretizar.

Pois saber das minhas tristezas
É saber de mim, de ti
E de alguma ausência mais.

Pois saber das minhas tristezas
É poesia.

É simples e puramente
Poesia.

E é daqui, vendo as primeiras horas do dia,
Que penso que posso ser estas minhas últimas horas.