terça-feira, 14 de dezembro de 2010

How happy is the blameless vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd.
Alexander Pope, Eloisa to Abelard



Nada mais indispliscente que a indispliscência comedida,
A tristeza desmedida, uma coerência indeferida,
Uma lembrança outorgada, uma linha esquecida,
Uma esfera, uma casa e mais uma medida.

Duas mãos, duas metades, dois pedaços vazios
Do que veio e se foi e partiu, entre rios,
Entre casas, entre caras, qualquer um, cios;
Um marasmo, alguns mortos e mais alguns fios.

Uma palavra, um silêncio, o que nos foi tido
O que se quer, que se tem, que se faz entendido
Um prazer, algum corte e um sonho ferido
Que repousa em mãos, tão mal protegido.

E no fim, em silêncio, há algum nó
Por ser, enfim, o que vem a ser pó
Um orgulho, despeito e alguma dó
De viver consigo... E somente só.



sexta-feira, 26 de novembro de 2010

QUARTO DO PIANO

era um cômodo abandonado.
ali se situava a alegria daqueles aqui recebidos.
crianças corriam e pulavam constantemente
ao som de notas pueris intercaladas à poeticidade
de um sol poente a nos conceber as delícias das noites
festivas (arrebatadas por um lirismo daqueles mais românticos).
era ali que se resumia o significado de espontâneidade
e, talvez, de alegria.
e o tempo deixa seus efeitos...
as páginas amareladas, as pautas ilegíveis,
a atuação de algumas traças e o abandono.
restam memórias refletidas na sombra
do mesmo sol, das mesmas tardes,
das mesmas saudades
embaladas em doçura e liberdade.
e assim se vai o sol novamente,
ao som daquelas mesmas pessoas
ao som daquelas mesmas músicas
ao som daquele mesmo piano.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

TRÊS TOMOS DE ORNAMENTOS NÃO NECESSÁRIOS

I
as fezes enegrecidas com a considerável ação do tempo

(às vezes me consideras escória)
(eu a considero como me convém)

não fossem as duas linhas serem paralelas
não fosse a formação incongruente das palavras
os resquícios de solstícios
as alusões tão penetrantes e pouco intuitivas
e uma que outra circunstância atenuante

(inquieta em meus flagelos )
(inquieta por sua quietude)

um apego familiar e desconfortável por si só
por ser o que se é e não o que se deve ser
e sendo o que se deve ser nada vem a ser
pois nada se constrói no que não se é
realmente e solenemente

(uma inquieta falácia)
(uma que outra, inutilmente)



II
bloquinho perplexo
jogo de nexo
e uma vantagem
uma sentença
capciosa
de se ser
de se pensar
ser
um ser


III
pois é com minha considerável inutilidade
que construo o anagrama das palavras
pra ver em quais cabem os sentidos já transvirados
de uma turva inexistência existencial
(tão cabal em seus máximos detalhes - que não há-)



terça-feira, 26 de outubro de 2010

[26 de outubro de 2010]

Duas silhuetas
Entrelaçadas no que tange o olhar
No que tange qualquer fragmento de olhar
Nos resquícios do tato do olfato do afago
Da presença em nada presente
Da conquista em nada atuada
Em palavras silenciosas
Em mãos saudosas de calor
Na presença tão doce ornamental
Que completa que preenche que suga a alma
Em recantos de um conforto desconfortável
Prazeroso em seus detalhes
Descuidado em saber cuidar-se
Zelando no que sabe ser seu
Na medida certa em proporção desmedida
No que honra o próprio orgulho desfragmentado
Um orgulho manchado e submisso
Em um beijo aspirado
Em um beijo marcado
Nas duas pequenas mãos aquelas mãos
Naqueles rostos encostados
Receosos de si mesmos
Amorosos por serem um
Aquelas mãos que dirão adeus
Talvez não
Talvez entrelacem na escuridão
Percam-se eternamente no que não é eterno

Por simplesmente serem duas silhuetas
Entrelaçadas no que tange o olhar

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

[des]FRAGMENTOS I

Num bloco de anotações de Luiza Jardim

Batatinha quando nasce
Menininha quando nasce
Incógnitas ponderantes
E tão pouco relevantes.

[des]FRAGMENTOS II

Num bloco de anotações de Luiza Schneider

Se esparrama pelo chão

Põe a mão no coração
A mais singela emoção
Sem qualquer conotação.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Neste fim de tarde, acariciei minhas lembranças. Um exercício terapêutico. Vem de família.

Lembro que, enquanto andava por aí, Deus falou comigo. Não o escutei direito: havia muito barulho: carros que vão e voltam, pessoas que gritam, árvores que se chacoalham, pessoas que morrem, árvores que gritam, carros que morrem... Tanto faz agora.

O tempo é inflexível.

Neste fim de tarde acariciei minhas tristezas. Elas vão embora?

Sinto que quanto mais me apaziguo das tormentas incessantes que crio contra mim mesmo, num exercício masoquista e terapêutico de auto-conhecimento, mais me desordeno. Mas há um prazer oculto nessas meditações indeléveis.

Neste fim de tarde... O telhado estava tão avermelhado! Achei ser tinta, um pingo celeste de lava! Derreteria com tudo o que houvesse dentro desta casa empoeirada! Mas nada era senão a luz do crepúsculo e algumas quimeras fantasiadas de sonho.

Sonho?

Mesmo minha mão, que desorientadamente escreve e pede perdão pros meus poucos companheiros de ontem que não se fizeram presentes hoje, mesmo minha mão tremula ondula sussurra palavras de ordem imparcial.

Neste fim de tarde... Vi apenas um fim de tarde. Nada tão casual e, ao mesmo tempo, rotineiro quanto um fim de tarde. Me dá uma bebida, um afago, um beijo, uma mão, um lençol, algumas palavras e clichês relacionados à situação e adeus! Não me interessa o que vai além daqui.
a saudade e outras coisas mais
intercaladas a inóspitos colóquios
sobre sentimentos alheios

(a mosca pousa ao longe)

e as mãos que balançam
e as vozes que se rasgam
e os beijos que se cospem

(a mosca permanece imóvel)

olhos sem destino
vozes nonsense
olhos bocas rasgos
sopros nojos incógnitos
sentimentos balanceados
dietas e suplementos

(a mosca rodopia em sua órbita re-pousa volta)

mãos entrelaçadas em laço algum
sonhos compartilhados em lugar nenhum
vistas cegas músicas surdas
calor gélido putas puritanas
mulheres sem vida homens da vida
sexos grotescos desencontrados
desavisados escancarados
em bocas fétidas em lábios secos

(a mosca voa mais um pouco e circunda os transeuntes)

sonhos retóricos desvairados
mordaças de sons insuportáveis
louvados pedaços restantes
da carne minha da carne tua
densos partidos repartidos
esquecidos relembrados e esquecidos
eis que a mosca sim a mosca
aquela mosca os encontra
e dá-se assim o nosso valor
às moscas
A menina. A flor. Elementos constitutivos de diferentes cenas, porém cenários iguais.
A menina contempla, distante. A flor é arrebatada pelo vento.
A menina sonha com o que está além de si. A flor conforta os pensamentos.

Os dois elementos vistos como aspectos meditativos apoiam-se um no outro, sem a necessidade do tato (e eis que me questiono da bestialidade humana por necessitar tanto do calor de um corpo sobre o seu para que se sinta seguro).

O que une estes dois seres são pequenas linhas invisíveis traçadas no ar: a do olfato e a da visão. Talvez a flor não se dê pela menina que a encara (não sei, talvez se dê: ignoro COMPLETAMENTE o que se passa na vida de uma flor). Essas são sensações de conforto que vão além da necessidade primária. Vão além do que é físico. Vão além do que é previsível.

E essa reciprocidade poética durará enquanto houver essa aliança contemplativa entre cada ser.

Até o primeiro contato...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O pêndulo atemporal que permeia as relações de certos seres; a mecânica ilegível do funcionamento de cada um de nós; a similaridade poética de todos os aspectos conflituantes e não conflituantes; a importância impalpável de certos ares compartilhados; o refúgio caloroso que o toque voluntário e consciente proporciona...

A proposta deste contrato efetuado pelo tempo (e por todos os elos a que ele se dispôs de construir) é de, simplesmente, bendizer à cumplicidade: saber do bem das vitórias, das picuinhas mal resolvidas, dos abraços consoladores, dos sorrisos vazios (e recheados) de significados, enfim, das pequenas coisas que vêm a possuir importância significativa mesmo que com seu diminuto tamanho.

Pois o que nos resta é absorver o que já fora absorvido para que se possa nutrir o que há de vir. As passagens não precisam permanecer empoeiradas sobre nossas estantes memoriais... Elas precisam ser exercitadas! E para isso há a boa cerveja, o bom cúmplice, o bom entendimento entre atritos de intelecto e coloquiais idas e vindas à Cidade Baixa e aos terrenos que nos são prediletos. O pisar em verdadeiro é exigência mínima para que se mantenham os elos existentes, e eles são sucessivamente bem sucedidos.

O que se constrói assim não se perde por pouco. Nem mesmo por muito. O que o destino reserva são sempre incógnitas ponderantes e confesso que, algumas, desnecessárias. Mas isso não impede aquela sensação de segurança sobre os aspectos seguintes ao presente. Isso não impede o sentimento de que aquelas sensações consoladoras (o aperto de mão, o carinho, a trova de bar, o céu e o pensamento compartilhados) sejam ponderadas com segurança.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Nada mais casual que a passagem do tempo
Nada mais permanente que a existência do tempo
Nada mais atemporal que nossa existência
Tudo o que pode ser marca neste pequeno grão de areia
Não condiz com passagem alguma
É apenas uma marca
E outra lembrança

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Minha ironia
Trescala
Um beijo inóspito
Hostil
Sutil
Devaneio
Meu
Teu
E minha mão
Acena
Um adeus
A linha entre o sono e a morte
Também é uma demência relativa.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A linha que separa o hoje do amanhã
É uma demência relativa.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sou tão desesperado (dirias imaturo)
Que canto ao meu futuro
A elegia do que há de vir!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Realmente não penso muito no que fazer nestes minutos já então distantes. Realmente não me importo. É... Não me importo.
Há coisas que são feitas para ficarem apenas nessa distância. Tão doce... Admirar as coisas em seu mistério, em sua beleza intocável, e ao mesmo tempo se exaurir naquela angustia de tê-las... De tê-las ao menos uma vez. Uma vez!
E nesse silêncio envolto, permaneço com minha inquietude. Desejoso, olhando, por aquela janelinha, as coisas que vão e vem e o nada que permanece aqui...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Olhar-te nunca será reconfortante enquanto eu não souber olhar a mim mesmo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Acerca das pétalas que lá fora
Na varanda
Se acomodam
Ao toque do vento
Não digo nada
Apenas sinto
Vejo
Ouço
Espero

E de tudo o que está lá longe
Distante
Impalpável
Resta apenas a imagem
Do que um dia fora
Nós
Contemplando
Esse mesmo
E imenso
Vazio

The Album Leaf - Over the Pond.
Não sei o que pensar sobre os sentimentos
Visto serem eles tão vulneráveis
E eu tão pouco mutável.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Por que transpiras tanta beleza
Se vês minha pouca vontade
E que faço mentira em verdade
A iludir a própria incerteza?

Em pensar em delicadeza,
Em pensar minha metade
Em apenas uma metade
Me resta uma certeza:

De que a pouca vontade
Não beira a razão
Nem a realidade,

Pois meu coração,
Ao sentir a verdade,
Não te bate em vão...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Eu te olho...
Sou fraco...

Não sou o mesmo de antes.
Não fui o mesmo de hoje.

E na neblina,
Lá fora...

Olho além além além...

Silenciosamente...

Delicadamente...

Duas mãos que se entrelaçam
A vagar numa que outra estação.

sábado, 15 de maio de 2010

Não sei se acredito em valores.
Não sei se acredito em teorias.
Não sei se acredito em suposições.
Nem mesmo sei
Se acredito em acreditar.
De tudo o que me fora dito,
De tudo o que me fora dado,
Apenas esse recanto de solidão
Resiste ao tempo e ao vento.
Pois o que me há de mais precioso
É o fato de não me haver nada
Que me tenha valor.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

DA ETERNIDADE

Encosto minha cabeça
Na ombreira do tempo,
Onde espero...

(se o tempo passar, vou desequilibrar)
Da saudade, retiro essas palavras tão singelas
Que são como minha oração
Para que bem zele por esse pouco amor
Que resta ao coração.

Pois pegue minha mão,
O resto... não importa.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Pois o tempo me limita
O uso das palavras
O uso dos meus erros
Em benefícios alheios
A imemorável culpa
A irrenegável honra
A honrosa derrota
Perante minhas horas
Meus medos
Meus zelos
Meus cuidados outrora poucos
Porém agora ousados
Minhas lágrimas árdidas
Espalhadas nas chuvas
Nos raios de sol
Nas horas inacabadas
Nos resquícios de tudo
Nas sobras de nada
Minha face corada
E mais pálida que a morte
Meus dedos tão frios
E mais quentes que o inferno
Minha lábia irreverente
Meu nascer inconcebível
Meu renascer
Meu morrer
Meu amanhã
Horas vagas
Solidão
Por que não?
Entender tão pouco
Entender demais
Enteder por menos
Por mais
Aflição
Reparação
Separação
Meu ciclo é assim
Passagem sem fim
Inadvertido
Subnutrido
De tão poucos avisos
De tão poucos alardes
E das respostas obtidas
Dos corredores da vida
Apenas uma mensagem:
A porta de entrada
É a mesma de saída

sábado, 8 de maio de 2010

Rabisco a letra inicial do teu nome
E sinto que, não importa qual seja,
Ela sempre forma uma só palavra:

solidão

26/04/2010 - 20:44

DA MORTE

Minha hora chega...
E eu, que fora inflexível com minhas futilidades,
Que fora incoerente com minhas necessidades,
Não sei no que pensar.
Não espero nada além de nada.
No vazio, na distância.
Na esfera inexistente
Dos meus sentidos

Irreparáveis

Inegáveis

Sonegados

Penhorados

Olvidados

quarta-feira, 5 de maio de 2010

DO CONFORTO

A sensação: conforto.
Perdidas sensações entre sentimentos ramificados,
Sólidos, densos, tristemente acolhidos
Por mãos tristes.
A sensação: conforto.

E mesmo sem saber ter sido,
As pessoas olham uma nas outras
Como a espelhos sem reflexos.

sábado, 1 de maio de 2010

Do que pensei em dizer...

Pensei em te dizer
Creio que agora não
Desnudas palavras minhas
Creio que uma oração

Mas cativa-me pensar
Que carrego em minha mão
Apenas lembrança
Nenhuma comoção

Pois sou o que era
E sei que sempre são
E nunca tão pouco só
Ser sem coração

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Na noite, às vezes, me perco em pensamentos extremamente subjetivos e desnecessários. O que ninguém me disse: a necessidade deles.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Do que sei...

Sou meu próprio cicerone...
Mas me falta o itinerário!!!

terça-feira, 13 de abril de 2010

Lágrimas e gotas de chuva se misturam
Em um quadro que não era o meu.
E cá eu assisto a tudo, de camarote,
Comovido com toda essa estupidez
Chamada vida!

EGOÍSMO

As pessoas se suportam por puro egoísmo!
No fundo, só não queremos estar sozinho..

domingo, 11 de abril de 2010

Passado-Presente

Por mais que meus passos sigam aparentemente solitários,
Há sempre aquela sensação de que alguém, misteriosamente, segura minha mão...
É apenas o passado se fazendo presente...

sábado, 10 de abril de 2010

Do que a Mente Pensa...

Eu caminhava por aquelas ruelas tão desertas das minhas lembranças
E não pude reencontrar muita coisa: algumas casas antigas e as mesmas calçadas de outrora...
O resto? O resto vai com o vento: pessoas fotos folhas tempo casa comida roupa lavada aranhas cordas teias veias cortes cicatrizes sangues lenços lençóis solidão lucidez divagação eloquente indigente sonolento testamento passagem enfermidade saudade solidão orientação nonsense raios de sol lua morte sobrecarga agonia tortura lágrimas lástimas saudade invasão percepção coração coroação introspecção perspectiva inauguração solidão embriaguez solene dormente inerente aspirante coerente insensato sensato amargurada exposição ambígua sombria dor fervente não demente somente impotente fervente ambíguo tenso imerso só penso não penso motivo soluço solução impositivismo positivo radiante articulado sistemático aderente hipotenusa cateto cadente estelar sonhador improvisador improviso respectivo à somente solidão que se passa tênue calada na beirada de um nada onde nada é apenas lembrança e lembrança na lágrima cai eloquente como somente quem pensa em nada e pensar é não pensar porque chegar até onde não se chega somente perceba não é por isso é apenas por solidão que eu eu tentava entender mas faltam forças e pra que forças às vezes é preciso mais mais do que ser assim eu entedia tudo mas pra que entender se mesmo a solidão é eloquente ou eloquente me torno você pra ser você novamente e entenda da sedução retiram o fel mel que é vago sombrio eloquente palavra doce mordaz escaldante e tristeza é tristeza somente e palavras vagam o vento leva ninguém entende o vento é o vento o que cede é a riqueza exorbitante pobreza mortalmente solenemente irreparavelmente meu eu mente que mente a mente verdades respostas não sei mais sonhos estranhos monstros memória lembrança cabeça dor quedas gravidade gravitacional sentimento surreal irreal real longínquo espírito logístico sagaz suga sangue dor esquecida morte imemorável sonegada exaltada não revelada perspicaz e improducente sistemático normalmente razoável inderrogavelmente narcisamente esporadicamente sutilmente delicadamente invariavelmente solitário sobretudo falácia narrativa solitária saudosista involuntaria

Era Dia...

E nessas horas da noite,
Resta o lirismo, inadvertido,
Daquela sombra.

Metalinguagem Inexistente

Se eu soubesse dar valor aos pequenos sentimentos,
Há muito teria premeditado essa inquietude...
Se eu soubesse dar valor a todos os lamentos,
Deixaria passar a vida com solicitude...

Pois se meus passos são outrora errantes,
Eu não saberia dizer o que vem antes...
E visto que na vida há tratantes,
Mercenários irrelevantes,

Eu me afundaria na amargura da tristeza
Para somente esconder o que me resta...
E no que me resta então de esperteza,
Tiraria o fardo que me pesa...

Pois a mão que te apóia inutilmente
É a mesma da vida que te fere,
E que pouco a pouco, docilmente,
Te ilude para que te recupere...

Mas se de tudo isso tão pouco e tudo
Um dia pudesse, por fim, restar,
Seria grato e faria um estudo
Do pouco que há a acrescentar...

Já que a filosofia é tão prática,
E a ironia raramente presente,
Que meu poema se perca, em estática
E transfigurada forma onipotente!!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Espero que entendas
Por termos circunstanciados
Que a indiferença não está nos olhos
Mas sim nos lábios
Por Deus, que digas
As coisas certas
Nas horas certas
Pois a sabedoria não me foi ganha
E a inteligência a ela não se alia
No meu momento há devaneio
E somente nele é que eu ria
E ria de mim só
E só de mim ria
Pois, despercebido, cometia
O mesmo crime que não previa
Nem honrosa palavra minha
Que a boca desmerecia
E percebo, solitário
Que me fiz então ditoso
De algo imaginário
Tão pouco pro meu eu insone
Pois para mim bastam palavras
Por mais inseguras que sejam
Meu egoísmo me diz muito:
Aprendi com elas a ser o que sou:
Papéis, rabiscos e livros:
O resto não me convém...

domingo, 14 de março de 2010

A pequena nostalgia sopra no ouvido com a delicadeza de uma brisa,
E isso é tudo o que posso lembrar...
Pois mesmo o momento mais doce
Pode se tornar algo vago.

Ao Vencedor, Às Batatas...

Ganha-se a vida... Perde-se a batalha...
Na mesma e inquieta plenitude,
Como a delicada mão que talha
A ingênua vida de inquietude.

Mas outrora esta não falha,
A Morte demonstra a atitude
Daquela que não tardar ralha
O que havia na juventude.

E dessa minha aurora radiante,
Resta em mim a migalha,
O gozo do palhaço errante...

Pois entregue então a medalha
Dessa vida já tão distante,
E deixe... Que se espalha...

Quanta Mesquinharia!!

Ai, quanta mesquinharia
Quando se pensa em saudade!!!
Em passos à padaria,
Consigo sonho, verdade...

Em toda minha velharia,
Se esconde a realidade:
Que, do que eu sonharia,
Nada em sobriedade...

E minhas pétalas caídas,
Perto desta triste cadeira,
São minhas únicas saídas,

Fugas da vida inteira,
De umas que outras idas
Até uma vida que eu queira...

Ah! Me Vejo a Andar...

Ah! Me vejo a andar na multidão
Como se dela não fizesse parte...
No profundo da solidão
Eu transformo tudo em arte!

Mas, nos passos que eles dão,
Vejo alguém que parte
Para se perder na imensidão
De um mundo roto à arte!

Lendo e relendo entrelinhas
Sem obter exatidão,
Reparo nas estrelinhas

Num céu de solidão;
Nessas tão novas linhas
Que compõem a multidão.

Do Dom

Se me valesse o dom das palavras,
Não estaria eu cá, a sofrer,
Nem o meu tempo a perder
Criando inúteis metáforas!
Pois o que resta, ao meu ver,
É o saciar e o beber
Por minhas almas solitárias...

Hoppipolla

É estranho se sentir assim? Não descobri ainda... Mas era uma pergunta capciosa e frequente. As pessoas poderiam não entender, mas eu bem entendia. O que eu tinha, materialmente, era muito pouco, mas o que, de fato, me restava, ainda tinha muito valor! Então, por que eu me sentiria estranho?
Vejo olhares tão avessos, tortos, como se eu fosse um animal perdido no meio da cidade! Mas não era assim que a coisa funcionava! Não era assim que eu funcionava! E eu não funcionava como o sistema!
Eu costumava andar pelas calçadas, no inverno, enquanto todos se protegiam em suas casas. E a cada nascer do sol o derreter da neve as poças que se formavam e os reflexos que nelas surgiam e minha face que a cada ano se deforma no reflexo da mesma poça...
Pois a cada pulo que eu dava, feito criança, sobre meu reflexo, sentia um alívio...

sábado, 13 de março de 2010

Sentidos

Eu cuidadosamente sento, penso, inspiro... E nada me aparece! Então as palavras voam como em uma composição sem tom definido! Na pauta, apenas notas musicais em tempos diversos e sem nenhum nexo entre uma e outra! Apenas o som que se passa na cabeça e que vem do fundo do coração... E, por entre as auroras desta noite tão vazia e escura, vago lentamente por onde ninguém há de passar! E, após, poderei dizer, com tanta veemência, que eu fora o único a pisar lá! Mas quando as horas sensatas mostram que a única aurora que havia eram os reflexos da televisão, fico me perguntando o porquê de viver assim: cheio de livros e tão pouco conhecimento... E das auroras, a luz que incendeia a perplexidade dos pensamentos alheios... E o sentido das poucas coisas que permeiam a inexistência de preocupação... Isso te faz sentido? Não? Então reveja teus conceitos... Afinal: na vida, tudo tem sentido.

VIDA VIDA VIDA

Vida vida vida
Que passa tão misteriosa,
Outrora esquecida,
Tão breve, silenciosa...

Vida vida vida
Outrora auspiciosa,
Vai despercebida,
Porém impetuosa...

A aurora que era minha,
Dentre tantos mistérios,
Hoje não me tinha...

E com tantos obséquios,
Leva a triste alminha
Aos portões dos cemitérios...
Posso eu esta revolta suportar,
Se de mim tão pouco pude dar,
Àqueles que estavam a esperar,
Aquilo que poderia ofertar?

Na minha vida hei de assegurar
As chances que vim aproveitar.
Poucas, mas hei de mostrar
O que então pode me restar!

No fim, hei de me desgastar,
E poderei acreditar
Que palavras são p'ra falar

E falar para se escutar,
Visto que, quando eu passar,
De mim não irás lembrar...

Esse sentimento estranho...

Esse sentimento estranho e repugnante
Que mantém os sonhos de mim afastados,
Parece crescer, então oscilante,
Diante dos meus tão poucos cuidados...

Mas o que há de se fazer quando errante,
A despejar sentimentos por si errados
Em tola mão, uma mão distante,
De meus dias não consolados...

Pois o esforço parece ser vão.
Os meus olhos quedam, calados,
E parecem alcançar a visão

De dias há muito vedados
Há quem, com o coração,
Achou que a vida eram agrados...

Assobio

Talvez um assobio valha mais
Do que o silêncio que me abstrai
A voz que não fala mais
A dor que não me sai...

Talvez um assobio valha mais
Do que a palavra que se esvai
Do peito, ademais,
Ou do corpo que se vai...

Um assobio para entender
Que somente ao partir
Que se volta para ver

Outra vez, para sentir,
Que não basta apenas ser,
Que há passos a seguir...

Da Ironia

Sorrir mordazmente calado...

Rabiscos de uma festa [2]

Há circunstâncias que são alheias às circunstâncias...
O álcool (ah! o álcool) não mede as circunstâncias, assim como as palavras não as medem... Assim como a vida...

Rabiscos de uma festa

Olha! Repara bem!
Descreve o que vê...

O resto?
O resto a mente explica...

terça-feira, 9 de março de 2010

E cá sigo eu...

...pensando em não pensar...


Pra isso existem as reticências!

Um Soneto de Solidão

É válido o esquecimento,
Árvores a desfolhar...
Páginas de lamento,
Outras a olvidar...

E se há arrependimento,
Dores a amargar,
Que resta no momento
Além do meu sonhar?

Pois pegue minha mão,
Venha me guiar...
Nas horas de solidão,

A me segurar
Próximo ao coração,
Perto de me deixar...
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Enquanto existir quem faça de poucas palavras
Maior sentido do quem as usa em demasia,
O mundo ainda encontrará um pouco de sensatez
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A Crença Infantil

Eis uma generosa infância
Que passa imperdoavelmente
E faz de mim lembrança,
E da lembrança faz a mente...

Na vida havia esperança;
No céu, um ardor demente;
Mas havia nessa criança
O ser que viria à frente...

E esse se desfez em saudade
Aquilo em que se fez crente:
Que haveria na vida verdade

E nas promessas dessa gente,
Me perdia nesta vertente
Dos pesadelos de um indigente...

Do Significado das Minhas Palavras

Não tente decifrá-las...
Pois se cada uma dessas palavras tão simples e modestas
Forem desvendadas, perco a complexidade que me resta...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Das Despedidas

As pessoas parecem esquecer
Que nem sempre uma despedida
Se associa a um final...