sexta-feira, 26 de novembro de 2010

QUARTO DO PIANO

era um cômodo abandonado.
ali se situava a alegria daqueles aqui recebidos.
crianças corriam e pulavam constantemente
ao som de notas pueris intercaladas à poeticidade
de um sol poente a nos conceber as delícias das noites
festivas (arrebatadas por um lirismo daqueles mais românticos).
era ali que se resumia o significado de espontâneidade
e, talvez, de alegria.
e o tempo deixa seus efeitos...
as páginas amareladas, as pautas ilegíveis,
a atuação de algumas traças e o abandono.
restam memórias refletidas na sombra
do mesmo sol, das mesmas tardes,
das mesmas saudades
embaladas em doçura e liberdade.
e assim se vai o sol novamente,
ao som daquelas mesmas pessoas
ao som daquelas mesmas músicas
ao som daquele mesmo piano.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

TRÊS TOMOS DE ORNAMENTOS NÃO NECESSÁRIOS

I
as fezes enegrecidas com a considerável ação do tempo

(às vezes me consideras escória)
(eu a considero como me convém)

não fossem as duas linhas serem paralelas
não fosse a formação incongruente das palavras
os resquícios de solstícios
as alusões tão penetrantes e pouco intuitivas
e uma que outra circunstância atenuante

(inquieta em meus flagelos )
(inquieta por sua quietude)

um apego familiar e desconfortável por si só
por ser o que se é e não o que se deve ser
e sendo o que se deve ser nada vem a ser
pois nada se constrói no que não se é
realmente e solenemente

(uma inquieta falácia)
(uma que outra, inutilmente)



II
bloquinho perplexo
jogo de nexo
e uma vantagem
uma sentença
capciosa
de se ser
de se pensar
ser
um ser


III
pois é com minha considerável inutilidade
que construo o anagrama das palavras
pra ver em quais cabem os sentidos já transvirados
de uma turva inexistência existencial
(tão cabal em seus máximos detalhes - que não há-)